A casa que os portugueses procuram e querem para viver

habitação está hoje no centro do debate em Portugal. Vive-se uma crise habitacional no país, que se arrasta há décadas e se agudizou nos últimos anos. Com o objetivo de mitigar o problema e aumentar a oferta de casas (sobretudo para arrendar), o Governo socialista de António Costa desenhou o pacote de medidas “Mais Habitação”, que está em discussão pública e a gerar uma forte onda de polémica e contestação. A verdade é que o atual contexto, marcado pelo alto preço das casas, subida de juros e perda do poder de compra por via da alta inflação, tem afetado a procura de habitação em Portugal, adiando a decisão de compra de casa, estimulando a mudança de casa para outras mais baratas e empurrando as famílias para o mercado de arrendamento. É isso mesmo que mostra o estudo do idealista/data sobre a procura de casas em Portugal, que identifica ainda as motivações, os orçamentos e os fatores que pesam na hora de arrendar ou comprar uma nova habitação.

 

Há uma série de propostas legislativas em discussão pública para aumentar a oferta no mercado residencial português, como é o caso do arrendamento obrigatório de casas devolutas, novos controlos de rendas e a agilização dos licenciamentos, por exemplo. É neste contexto que importa saber que tipo de casas procuram as famílias que vivem em Portugal, o que as motiva e quais são os preços que estão dispostas a pagar.

As respostas a todas estas e outras questões são encontradas no “Estudo das intenções da procura de habitação em Portugal”*, elaborado pelo idealista/data, revelando que a esmagadora maioria dos portugueses inquiridos diz estar à procura de uma casa para comprar (70,2%), enquanto só cerca de um em cada três admitiu procurar uma habitação para arrendar. 

Para melhor compreender as motivações de quem procura uma nova habitação para morar, quais são as características que deve ter a casa e os orçamentos disponíveis das famílias, o idealista/news mergulhou neste estudo e explica tudo sobre a procura de casa em Portugal para comprar e arrendar.

Quais são os fatores mais relevantes para quem procura casa?

Na hora de procurar uma casa para comprar ou arrendar há vários fatores a ter em conta, sendo a localização um dos mais pesa na decisão. Segundo o estudo, uma em cada três pessoas inquiridas procura casa para comprar na mesma cidade e na mesma freguesia onde hoje reside. Este é um requisito ainda mais importante para quem procura uma casa para arrendar, já que quase metade dos participantes dizem pesquisar habitações no mercado de arrendamento da mesma cidade e freguesia.

Quem procura casas à venda admite olhar também para outras freguesias da mesma cidade (18,9%) e para outras cidades no mesmo distrito de residência (23,1%). Mudar de casa e de vida para outro distrito está em cima da mesa para uma em cada quatro pessoas que procura casa para comprar, revela o estudo do idealista/data. Já quem procura uma casa no mercado de arrendamento está menos disposto a mudar a sua localização atual, seja para outras freguesias, cidades ou até mesmo distritos.

Além da localização, há ainda outros fatores a ter em conta na hora de procurar uma nova habitação para viver. Os bons preços, qualidade de vida, ter bons acessos, parques, zonas verdes, praias e serviços por perto são os pontos mais importantes para os mais de mil utilizadores do idealista inquiridos, seja para comprar ou arrendar. De notar, por outro lado, que quem quer arrendar uma casa  dá especial importância à proximidade ao local de trabalho.

Subida dos juros está a afetar a procura de casa

A somar a todos estes fatores que influenciam a procura de uma nova casa para viver há que incluir a subida das taxas de juro nos créditos habitação, que agrava as prestações das casas das famílias e reduz o capital que os bancos são autorizados a emprestar, num momento em que os preços das casas estão em alta. Também a inflação em Portugal permanece elevada (nos 8,2% em fevereiro, segundo o INE) muito embora já esteja a dar sinais de descida, o que acaba também por pressionar os orçamentos familiares.

Mas estará o aumento dos juros nos empréstimos da casa a afetar a decisão de quem procura uma nova casa para viver em Portugal? Mais de metade dos participantes deste estudo diz que sim. Este novo contexto económico está, sobretudo, a adiar a decisão de compra e a empurrar as famílias para o mercado de arrendamento. E há quem admita que vai comprar uma casa mais barata ou mais pequena, de acordo com os mesmos resultados.

Além disso, há também quem esteja a procurar casas nas zonas periféricas das grandes cidades, como Lisboa e o Porto, onde os preços são mais baixos do que nos centros, segundo contaram os especialistas de mercado ao idealista/news. Este facto – associado à subida de juros e dos elevados preços nos centros urbanos – pode explicar a maior disposição dos inquiridos por procurar casas à venda fora da sua localização atual.

Comprar casa: quais os motivos da mudança?

procura de uma nova casa para viver pode ser despertada por diferentes motivos. Segundo o mesmo estudo, quase 30 em cada 100 portugueses inquiridos está ativamente no mercado à procura daquela que será a sua primeira habitação.

E quem procura casa para comprar em Portugal já é proprietário de, pelo menos, uma habitação (cerca de 43,7% diz ter uma casa e cerca de 20% diz ter duas ou mais habitações em sua posse). Isto porque mudar de casa é uma opção em cima da mesa para muitos, embora por diferentes motivos:

  • um em cada cinco inquiridos diz querer mudar de casa para uma habitação maior;
  • cerca de 18,6% quer mudar de casa e de zona de residência;
  • e cerca de 6,6% diz querer mudar de casa, para comprar uma mais pequena.

Além disso, há também quem pesquise casas para comprar numa perspetiva de investimento (17% do total) ou para ter uma segunda habitação (9%).

As famílias portuguesas que procuram casa para comprar não tomam a decisão de ânimo leve, já que para muitas representa um investimento de longo prazo, sobretudo se avançarem com crédito habitação. Por isso mesmo, cerca um em cada três inquiridos admite estar mais de um ano a pesquisar casas à venda. E 20,6% está a pesquisar casas no mercado entre 7 e 12 meses.

O tempo que os portugueses levam a procurar a casa ideal para comprar também afeta o prazo de venda. Cerca de 27% dos inquiridos demora entre um a dois anos a avançar para a aquisição da habitação e 37% demora entre 6 e 12 meses. Há ainda quem admita avançar só depois de dois anos de ponderação (14,3%).

Que tipo de casas para comprar procuram as famílias portuguesas?

As habitações mais procuradas pelos portugueses inquiridos neste estudo são, sobretudo, as casas usadas e em bom estado. E há quem também procure casas usadas para depois reabilitar (16% do total). Só 13% admite procurar uma casa nova.

E que características deve ter a casa que procuram? As casas com dois ou três quartos são mesmo as mais procuradas (é a preferência de mais de 80% dos participantes), seguidas das habitações com quatro ou mais quartos (7,8% do total), revelam os dados do estudo preparado pelo idealista/data. Além disso, os inquiridos residentes em Portugal admitem que procuram casas para comprar, sobretudo, com garagem, varanda, jardim, elevador e terraço.

Ter uma casa eficiente em termos energéticos é também hoje uma prioridade para muitos, já que pode reduzir a conta de luz no longo prazo e ajuda a melhorar o conforto térmico da habitação. E os dados deste estudo revelam isso mesmo: cerca de 65% dos inquiridos admite estar disposto a pagar mais por uma casa eficiente.

Casas entre os 100 mil e os 200 mil euros estão na mira das famílias

E quanto é que estas famílias estão dispostas a pagar, em concreto, por uma casa? Quase 42% dos participantes diz ter um orçamento para comprar casa compreendido entre os 100 mil euros e os 200 mil euros. E uma em cada cinco pessoas admite procurar habitações à venda que custem entre 200 mil e 300 mil euros.

À medida que os intervalos dos preços das casas avançam, há cada vez menos pessoas com orçamentos disponíveis para comprar, mostram os dados. Isto acontece porque, afinal, os rendimentos familiares líquidos (em termos médios) dos inquiridos situam-se nos patamares mais baixos, sendo inferiores a 35.000 euros/ano para mais de metade das pessoas.

A maioria dos portugueses auscultados admite avançar com a compra da casa com crédito habitação, muito embora o montante do empréstimo sobre o valor do imóvel varie muito. Por exemplo, 26% das pessoas quer pedir crédito habitação para pagar entre 50% e 80% do valor da casa. E só 17% admite pedir capital para pagar mais de 80% (o financiamento máximo admitido pelo Banco de Portugal é de 90% do valor do imóvel). Ainda assim, há que diga não precisar de crédito habitação para comprar casa (28,3% dos inquiridos).

O importante hoje em dia é assegurar que a prestação da casa não sufoque o orçamento familiar, num momento em que os juros estão em alta. A despesa com o crédito habitação deverá representar menos de 25% do rendimento mensal para 41% dos inquiridos. Já para 40,4% destas pessoas, a prestação da casa deverá pesar entre 26 e 35% do rendimento familiar.

Importa recordar que “as prestações mensais do crédito habitação não devem ser superiores a 35% dos rendimentos mensais”, tal como alerta o idealista/créditohabitação. Ainda assim, segundo o estudo, as despesas com o empréstimo da casa deverão pesar mais de 36% na carteira de 18,7% dos inquiridos.

Arrendar casa: porquê procurar uma nova?

Quem procura casa para arrendar em Portugal tem também diferentes motivações. Para muitos trata-se de um processo de mudança de casa (ou seja, já vivem numa habitação e procuram uma nova). Um em cada cinco inquiridos admite mudar de casa para uma mais barata. E cerca de 18,2% quer mesmo mudar de localização. Há ainda quem procure casas com mais comodidades (11,4%) ou até maiores (11%). Só 17,5% dos participantes deste estudo está a arrendar casa pela primeira vez.

E que tipo de casas procuram? Sobretudo casas em segunda mão, com dois quartos. Cerca de 29% das pessoas auscultadas diz procurar habitações T1. Ter garagem, varanda, jardim, elevador ou terraço também são algumas características destacada por quem procura ativamente uma habitação para arrendar no idealista. Ter uma cozinha equipada é um requisito para 43% dos inquiridos. Já quase uma em cada quatro pessoas admite procurar casas já mobiladas.

Como o mercado de arrendamento em Portugal apresenta uma baixa oferta para a procura existente, as rendas das casas estão em alta – por isso mesmo o Governo socialista apresentou uma série de medidas no “Mais Habitação” com o objetivo de aumentar a oferta neste mercado. Dado o preço elevado das casas para arrendar, cerca de 38% famílias residentes no país (e que participaram no estudo) estão dispostas a pagar rendas entre 450 e 600 euros por mês. E uma pessoa em cada quatro admite procurar casas que custem entre 601 e 750 euros/m2. E tal como no mercado de compra e venda, à medida que o intervalo de rendas sobe, há menos procura. Ainda assim, a maioria admite estar disposta a pagar mais de renda por uma casa eficiente do ponto de vista energético.

Afinal, as famílias querem assegurar que a renda da casa não pese muito no orçamento, que já está hoje pressionado pela alta inflação. Até porque a maioria das pessoas que procura casa para arrendar (64%) tem rendimentos inferiores a 25.000 euros/anuais, aponta a publicação. Para 38% dos inquiridos, a renda da casa deverá pesar entre 25% e 35% no rendimento familiar. E cerca de 23% quer que a renda pesa menos de 25% na carteira. Ainda assim, uma vez que as rendas estão altas, quase um em cada três participantes admite que as rendas das casas pesem entre 35% a 50% no seu orçamento familiar.

Na hora de arrendar casa, geralmente os senhorios pedem rendas antecipadas e cauções. Sobre este ponto, quase metade dos inquiridos que procura casas para arrendar admite estar disposto a pagar apenas 2 meses adiantados. Cerca de 28% dos participantes só estaria disposto a pagar um mês. E 18% pondera pagar três meses de renda antecipadamente.

Viver numa casa partilhada: será uma opção?

Hoje, o mercado residencial está a ficar cada vez mais caro e menos acessível aos bolsos das famílias, já que os rendimentos não sobem à mesma velocidade dos preços das casas. É neste contexto que muitos ponderam mudar-se para uma habitação partilhada, que será mais barata (à partida). Viver numa casa partilhada é uma segunda opção para um em cada três inquiridos, que a consideram só se não conseguirem arrendar uma casa sozinhos. Já uma em cada cinco pessoas admite querer mudar para uma habitação partilhada por ser mais barato.

As motivações que levam as pessoas a partilhar casa são várias, mas o preço é o que tem maior peso na decisão, até porque 88% dos inquiridos diz ter rendimentos inferiores a 25.000 euros anuais. A maioria dos participantes neste estudo diz que o preço máximo que está disposto a pagar por uma habitação partilhada situa-se entre os 201 e 300 euros/mês. Cerca de uma em cada quatro pessoas admite ter um teto um pouco superior: entre os 301 e os 400 euros/mês. Desta forma, conseguem taxas de esforço no arrendamento mais sustentáveis (a maioria inferior a 35%).

E com quem estão dispostos a viver numa casa partilhada? A maioria diz que é “indiferente” (cerca de 60%), enquanto um em cada quatro gostaria de dividir casa com trabalhadores. Só 10% diz preferir partilhar casa com estudantes. A grande parte dos participantes deste estudo diz que gostaria de dividir casa apenas com um ou duas pessoas. Para estas pessoas, o que é mais importante é que a casa possua elevador, varanda, jardim ou um espaço exterior.

Quem são as famílias residentes em Portugal que procuram casa? E onde vivem?

Das mais de mil pessoas que participaram neste estudo sobre as intenção de procura de casa para comprar e arrendar, 41% vive no distrito de Lisboa, 15% no Porto, 12% em Setúbal e 6% em Faro. Os outros distritos e ilhas portugueses são o local de residência de 294 inquiridos (26% do total).

E que idade tem quem procura uma nova casa para viver? A maioria dos inquiridos (51,6%) tem entre 36 e 55 anos de idade. Quase uma em cada três pessoas tem 56 anos ou mais. Os jovens – com 35 anos ou menos – representam apenas 18,7% da amostra, sendo a faixa etária menos ativa na procura de casa, mostram os dados do estudo.

Embora as formas de trabalho estejam a mudar, com a introdução do teletrabalho e do trabalho híbrido no seio empresarial, a esmagadora maioria dos inquiridos (61,5%) diz trabalhar de forma presencial na empresa. Só 28% diz ter um regime de trabalho híbrido e apenas 10% afirma estar em teletrabalho. A fatia mais expressiva dos participantes deste estudo trabalha com contrato por tempo indeterminado (46,3%) e 19% trabalha por conta própria. Só 13,8% das pessoas disseram estar reformadas.

Quem está mais ativo na procura de casa para comprar ou arrendar são os casais com filhos, já que representam 38,2% do total. E logo a seguir vêm os casais sem filhos, que representam um em cada quatro inquiridos. Quem vive sozinho representa 18% do total e as famílias monoparentais pesam quase 9%. Há também quem viva com os pais (6,4%) ou numa casa partilhada (4,4%) e anseie ter o seu próprio espaço.

*Metodologia: Estudo feito a partir de um inquérito online realizado entre 20 de dezembro de 2022 e 20 de janeiro de 2023, que contou com a participação de 1.133 utilizadores ativos do idealista e que vivem em Portugal.

Fonte: Idealista

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