As Euribor vão a caminho da maior queda mensal em mais de uma década, na ressaca do mini crash nas bolsas registado no início do mês e perante a expectativa de cortes nas taxas de juro dos bancos centrais, antecipando-se boas notícias para as famílias com empréstimos da casa por pagar ao banco.
Estas taxas — que são usadas no cálculo da prestação da habitação — estão em queda desde o pico atingido no final do ano passado, mas registam neste mês uma baixa mais pronunciada.
Mantendo-se a trajetória, tudo aponta para a maior queda mensal da Euribor em 15 anos no prazo a três meses e em 12 anos no prazo a seis meses. A média mensal cai 0,118 pontos percentuais a três meses e 0,195 pontos percentuais a seis meses face à média de julho, de acordo com os dados observados até esta segunda-feira.
Juntamente com o prazo a 12 meses (terá a maior queda desde dezembro), estes são os indexantes mais usados no mercado em Portugal, onde predomina a taxa variável (90% dos contratos). O que significa que as famílias poderão ver o seu esforço com o crédito da casa aliviar nas próximas atualizações da prestação.
Quanto? As descidas poderão ir até 80 euros – veja as simulações do ECO e faça as suas próprias simulações no final do artigo.
Euribor em forte queda
O que aconteceu?
As Euribor foram sacudidas no início do mês quando os mercados por todo o mundo sofreram um forte abalo por conta de uma série de fatores, incluindo os receios de uma recessão nos EUA, a maior economia do mundo, que colocaram pressão para a Reserva Federal (Fed) começar a aliviar a sua política monetária.
Estas preocupações surgem agora com menos força, depois dos indicadores mais favoráveis da inflação e das vendas a retalho divulgados na semana passada – e com base nos quais o Goldman Sachs reduziu as probabilidades de 25% para 20% de uma recessão na maior economia do mundo.
Ainda assim, o mercado dá como certo um corte de juros na próxima reunião da Fed, está agendada para 17 e 18 do próximo mês, havendo mesmo quem espere uma redução de 50 pontos base, de acordo com a ferramenta CME FedWatch.
As expectativas dos investidores serão postas à prova no final desta semana, quando o presidente Jerome Powell discursar no simpósio anual de Jackson Hole, um evento onde se fará acompanhar pelos líderes dos bancos centrais de todo o mundo.
Na Zona Euro, onde a senda de baixa de juros começou em junho (seguida de pausa em julho), o mercado desconta que o Banco Central Europeu (BCE) vai cortar as taxas “aproximadamente uma vez por trimestre, 25 pontos base cada, até ao final de 2025, provavelmente estabilizando nessa altura”, refere Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros.
Não só os investidores consideram que a inflação já está sob controlo – atingiu os 2,6% em julho — e que será necessário estimular a economia através da política monetária, mas há outro detalhe relevante, sublinha Filipe Garcia: “O BCE poderá sentir o conforto de a Fed fazer o mesmo, o que é um aspeto importante porque, apesar de não o admitir diretamente, percebe-se que o BCE não pretende que o diferencial de taxas de juro entre o euro e o dólar se alargue mais”.
Esta segunda-feira o euro atingiu o valor mais elevado do último ano contra a nota verde ao tocar nos 1,1051 dólares.
Para João Queiroz, diretor de trading do Banco Carregosa, a tendência de descida das Euribor deverá manter-se, pois a par da expectativa de alívio dos juros do BCE, existe a perspetiva de estagnação da atividade económica e dos salários, enquanto se mantém a necessidade de manter a estabilidade dos mercados financeiros.
Ou seja, a perspetiva de baixa das taxas de juro está bem alicerçada na mente dos investidores. Tanto que se espera que a Euribor a seis meses desça para 2,65% (contra os 3,408% desta segunda) daqui a cerca de um ano e que a Euribor a 12 meses recue para 2,4% (face aos atuais 3,183%).
João Queiroz alerta que “se houver sinais de recuperação económica mais robusta ou um ressurgimento das pressões inflacionistas, poderemos ver uma estabilização, ou no limite um regresso ao aumento das taxas”, embora este último seja um cenário muito pouco provável.
Já Filipe Garcia revela-se mais cético quanto ao ritmo de descida de juros que o mercado está a antecipar e acredita que será mais lento.
O BCE poderá sentir o conforto de a Fed fazer o mesmo, o que é um aspeto importante porque, apesar de não o admitir diretamente, percebe-se que o BCE não pretende que o diferencial de taxas de juro entre o euro e o dólar se alargue mais.
Como vai afetar o meu bolso?
A descida das Euribor irá traduzir-se numa redução da mensalidade da casa nos contratos com taxa variável. As famílias já estão a beneficiar da queda destas taxas com a redução da prestação da casa, mas a partir de agora esse benefício poderá ser maior (se a tendência de descida se mantiver).
Em termos mais imediatos, os contratos de crédito à habitação que foram revistos em setembro poderão ter uma redução até 80 euros na mensalidade, de acordo com as simulações realizadas pelo ECO para um empréstimo de 150 mil euros a 30 anos e com um spread de 1%:
- Euribor a três meses: a prestação que vai pagar nos próximos três meses irá descer para 765,92 euros, menos 22,26 euros (-2,82%) relativamente à prestação que pagava desde junho;
- Euribor a seis meses: a prestação que vai pagar nos próximos seis meses rondará os 755,4 euros, uma descida de 40,78 euros (-5,12%) em relação à prestação que pagava desde março;
- Euribor a 12 meses: a prestação que vai pagar nos próximos 12 meses irá cair para 733,35 euros, menos 78,5 euros (-9,62%) face à prestação que pagou no último ano.
Para o ajudar a calcular a prestação do seu crédito à habitação, o ECO preparou um simulador. Faça as contas para o seu caso e se o seu contrato for revisto agora, saiba quanto irá pagar a mais ou a menos.