Taxas estão já em níveis de 2008. Num ano, prestações ficaram 300 euros mais caras para famílias que compram casa com empréstimo.

 

Não há boas notícias para quem quer avançar com a compra de casa com recurso a crédito habitação a taxa variável. As taxas Euribor continuam a subir à boleia das taxas de juro diretoras do Banco Central Europeu (BCE), que já estão nos 3,75%. E subiram tanto que estão a aproximar-se mês após mês dos 4%, estando já em níveis de 2008. Todo este cenário acaba por se ver refletido nas prestações da casa nestes novos empréstimos para comprar casa contratos agora em junho. Explicamos com base em simulações do idealista/créditohabitação.

Sem surpresa, à medida que o BCE continua a subir os juros diretores para travar a inflação na Zona Euro, as médias mensais das taxas Euribor continuam a escalar, tendo-se fixado nos seguintes valores em maio de 2023:

  • Euribor a 12 meses: chegou aos 3,862% em maio, mais 0,105 pontos percentuais (p.p.) face à registada no mês anterior (3,757%);
  • Euribor a 6 meses: subiu para 3,682% em maio, uma taxa 0,166 p.p. superior face à registada em abril (3,516%).
  • Euribor a 3 meses: fixou-se em 3,372% em maio, mais 0,193 p.p. face a abril (3,179%).

Foi no passado mês de maio que o BCE avançou com o aumento mais recente dos juros diretores em 25 pontos base. E sabe-se agora que o abrandamento da subida das taxas de juro foi apoiada pela maioria dos membros do conselho de governadores, segundo revelou a ata da reunião. O que também ficou claro é que o regulador europeu não vai ficar por aqui, prevendo-se um novo aumento das taxas de juro diretoras na próxima reunião de política monetária agendada para 15 de junho.

“A inflação é demasiado alta hoje [fixou-se em 6,1% em maio na Zona Euro] e continuará a sê-lo durante muito tempo”, afirmou Christine Lagarde, presidente do BCE, esta quinta-feira, dia 1 de junho, frisando que o regulador continua determinado em reduzi-la ao objetivo de médio prazo de 2%. “Por isso, precisamos de continuar o nosso ciclo ascendente até estarmos confiantes de que a inflação está no bom caminho para regressar ao nosso objetivo a tempo”, disse ainda Christine Lagarde. Portanto, se os juros diretores voltarem a subir em junho, as taxas Euribor deverão também continuar a escalar, agravando ainda mais as prestações da casa.

Prestações da casa em junho: como sobem face ao mês anterior?

Com a subida continua das taxas Euribor, quem contratar um crédito habitação em junho de 2023 – que usa a média da Euribor de maio – vai pagar mais de prestação da casa do que quem se antecipou e contratou o empréstimo no mês anterior. É isso que mostram as simulações preparadas pelos especialistas do idealista/créditohabitação, tendo por base um novo empréstimo habitação de 150.000 euros, com spread de 1% e prazo de 30 anos.

Olhando para as taxas Euribor e as prestações da casa dos contratos assinados em junho de 2023 (que usam a média de Euribor de maio) e comparando-os com os créditos assinados no mês anterior, observa-se que:

  • Crédito habitação com Euribor a 12 meses: quem avançar com um empréstimo da casa em junho vai pagar 792 euros no primeiro ano, mais nove euros do que quem assinou o contrato um mês antes;
  • Crédito habitação com Euribor a 6 meses: quem assinar um empréstimo habitação em junho (que usa a média da Euribor de maio) pagará 776 euros/mês nos primeiros seis meses, mais 15 euros do que quem avançou com o crédito no mês anterior;
  • Crédito habitação com Euribor a 3 meses: aqui a prestação da casa num empréstimo contratado em junho fixa-se nos 748 euros nos primeiros três meses, um valor 17 euros superior face aos 731 euros pagos durante o primeiro trimestre por quem contratou o empréstimo da casa no mês anterior.

Euribor dá o salto num ano e sobe prestações em 300 euros

As diferenças nas prestações da casa são ainda mais notórias se recuarmos um ano, a junho de 2022, uma altura em que as taxas Euribor aplicadas aos créditos habitação estavam negativas ou ainda próximas de 0%. Comparando os dois cenários (o atual com o observado há um ano), salta à vista que as prestações da casa deram o salto à boleia da Euribor:

  • Crédito habitação com Euribor a 12 meses: sem surpresa, a Euribor deu um salto superior a 3,5 p.p. em apenas um ano, estando já em níveis de 2008. Ora, quem decidiu avançar com um empréstimo da casa em junho de 2022 pagou no primeiro ano 502 euros/mês. Por outro lado, quem assinar um crédito habitação em junho de 2023 vai pagar mais 290 euros de prestação, ou seja, 792 euros mensais nos 12 meses seguintes;
  • Crédito habitação com Euribor a 6 meses: há um ano a Euribor ainda estava em terrenos negativos, a aproximar-se de 0%. E, a média de maio, está acima dos 3,5%. Esta diferença na taxa Euribor a 6 meses reflete-se nas prestações da casa. Se há um ano quem contratasse um empréstimo nestas condições pagava 472 euros/mês no primeiro semestre, agora paga mais 304 euros de prestação da casa, perfazendo 776 euros/mês.
Euribor volta a subir em maio
Foto de Mikhail Nilov no Pexels

Quem avançou com o empréstimo da casa de taxa variável há um ano (ou nos anos anteriores) vai sentir também os efeitos da subida das taxas Euribor nas suas prestações da casa assim que forem atualizadas a 3, 6 ou 12 meses. Mas aqui a dimensão da atualização vai depender de vários fatores, como o capital em dívida e do ano do contrato. Sabe-se que os contratos mais recentes e com maior capital são os que vão sentir maiores aumentos da prestação da casa.

A maioria das famílias que pediu financiamento para comprar casa em Portugal, fê-lo com recurso a taxas de juro variáveis, estando hoje a sentir os orçamentos bem apertados por via das atualizações da Euribor. Reconhecendo que há famílias em dificuldades em pagar as prestações da casa, o Governo lançou uma série de apoios, desde novas regras para renegociar o crédito habitação à amortização do crédito sem custos, passando por descontos no IRS. O apoio mais recente e incluído no pacote Mais Habitação é a bonificação dos juros, que entrou em vigor no passado dia 16 de maio.

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