O clima económico em Portugal está a dar claros sinais de mudança, tendo voltado a máximos de 2023, segundo os dados mais recentes do INE. Com o mercado de emprego forte, a inflação mais baixa e o custo de vida mais barato, as famílias estão a conseguir poupar mais, e consequentemente a confiança dos consumidores também está a aumentar. Acresce que os juros nos créditos habitação inverteram o ciclo de subidas e estão a cair há vários meses, acompanhados pelas Euribor. Mas os preços das casas continuam a subir, em termos medianos, tanto para comprar como para arrendar, e sem o acompanhamento real dos salários. Será esta então uma boa altura para investir na compra de casa com recurso a financiamento bancário? Ou será melhor rentabilizar o dinheiro poupado nos depósitos a prazo?
Não há uma resposta única para esta questão e depende do contexto particular de cada família ou investidor, além do cenário económico e financeiro. Para ajudar na tomada de decisão, o idealista/news passou a pente fino a evolução das taxas de juro e a oferta de crédito habitação,bem como as alterações nas remunerações dos depósitos a prazo, contando com o contributo de especialistas.
A tempestade económica provocada por uma elevada inflação e altos juros no crédito habitação parece estar a dissipar-se, pouco a pouco, durante 2024. E isto porque a determinação do Banco Central Europeu (BCE) em travar a inflação na área euro deu frutos, de tal forma que o regulador liderado por Christine Lagarde já avançou com dois cortes nas suas taxas de juro diretoras em junho e setembro – e aguardam-se mais reduções, tendo mesmo pedido flexibilidade na política monetária.
Tudo isto acaba por tocar nos bolsos das famílias portuguesas, bem como dos investidores no setor imobiliário. A descida da inflação em Portugal nos últimos meses, a par de um maior crescimento do rendimento disponível elevou a taxa de poupança das famílias entre abril e junho deste ano para 9,8%, revelou o Instituto Nacional de Estatística (INE). E este aumento da poupança impulsionou a capacidade de financiamento das famílias para 3,4% do PIB nesse mesmo período.
Agora, resta saber o que fazer às poupanças. As hipóteses são muitas, desde comprar um carro até fazer aquela viagem de sonho há muito planeada. Em alternativa, pode-se decidir avançar com a compra de casa para viver, uma segunda residência ou um imóvel para colocar no mercado de arrendamento como fonte de rendimento, usando esse fundo de reserva como entrada para um crédito habitação. Mas também se pode optar por deixar o dinheiro a render no banco. Antes de tomar qualquer decisão, descobre como estão a variar os juros e a oferta nestes dois produtos bancários (crédito da casa e depósitos a prazo), que são dos mais utilizados em Portugal.
Juros estão a descer: como fica o crédito habitação?
Investir as poupanças na compra de casa é uma decisão importante na vida das famílias, até porque além de implicar uma elevada taxa de esforço, em geral, trata-se de um compromisso de longo prazo. E, por isso, importa estudar bem o mercado antes de avançar com a aquisição, para perceber como estão a variar as taxas de juro no crédito habitação e qual é a oferta bancária disponível agora e num futuro próximo.
Ao olhar para os dados mais recentes do Banco de Portugal (BdP), salta à vista que a taxa de juro nos novos créditos habitação está a descer desde o final do ano passado, fixando-se em 3,56%, em média, no mês de julho. Esta é uma boa notícia, uma vez que quem avançar com um empréstimo para comprar casa pagará prestações mais baixas.
A redução nos juros dos novos créditos habitação em Portugal surge numa altura em que os mercados financeiros já estavam a antecipar os cortes das taxas diretoras pelo BCE, que só se concretizaram no verão. E este decréscimo é o reflexo da evolução dos juros nas principais tipologias de empréstimos utilizadas no nosso país:
- Créditos habitação a taxa variável: as taxas Euribor já estão a cair para todos os prazos desde o final de 2023, descendo as prestações da casa nos novos créditos habitação em dezenas de euros, tal como explicamos aqui. A Euribor a 12 meses fixou-se em 3,166% em agosto e a Euribor a 6 meses em 3,425%;
- Créditos habitação a taxa mista: para atrair mais clientes, os bancos em Portugal têm lançado campanhas de créditos a taxa mista mais acessíveis (que fixam a prestação num período inicial do contrato, seguido de um período a taxa variável). Esta é uma forma das famílias terem estabilidade financeira, pelo menos, no curto prazo, motivo que terá levado a que a taxa mista tenha passado a representar a maioria dos novos créditos habitação própria e permanente no nosso país (74% do total em julho).
Com esta oferta hipotecária diversa e juros mais baixos, houve também maior concessão de capital para comprar casa: o montante de novos créditos habitação totalizou 1.284 milhões de euros em julho, um valor superior ao registado no mês anterior (1.275 milhões), indicam os dados do regulador.