Nunca subiram tanto em tão pouco tempo. As taxas Euribor estão em máximos de 2008 e o indexante a 12 meses atingiu o patamar dos 4% em junho, depois do Banco Central Europeu (BCE) ter voltado a apertar a sua política monetária. Quem vai sentir as consequências diretas deste aumento são as famílias que vão pedir crédito habitação de taxa variável para financiar a aquisição da habitação, já que as prestações da casa vão refletir esta subida em julho. Explicamos tudo tendo por base simulações do idealista/créditohabitação.
Tal como anteciparam os especialistas, o regulador europeu voltou a subir as taxas de juro diretoras em 25 pontos base no passado dia 15 de junho. Esta nova subida elevou o preço do dinheiro para 4% e deu novo estímulo ao aumento das taxas Euribor mensais para todos os prazos, fixando-as nos seguintes valores em junho:
- Euribor a 12 meses: chegou aos 4,007% em junho, mais 0,145 pontos percentuais (p.p.) face à registada 3,862% em maio;
- Euribor a 6 meses: subiu para 3,825% em junho, uma taxa 0,143 p.p. superior em relação à registada no mês anterior (3,682%);
- Euribor a 3 meses: fixou-se em 3,536% em junho, mais 0,164 p.p. face a maio (3,372%).
Tudo indica que o guardião do euro não vai ficar por aqui, estando à vista um novo aumento das taxas de juro diretoras em julho para continuar a travar a inflação na Zona Euro. “É muito provável continuar a aumentar as taxas em julho”, avisou Christine Lagarde, presidente do BCE. Isto quer dizer que estão previstos novos aumentos das taxas Euribor, pelo menos, até novembro, tal como analisou Mário Centeno, governador do Banco de Portugal (BdP). Só depois é que os indexantes deverão começar a descer lentamente.
Prestações da casa em julho voltam a subir: quanto?
As novas subidas das taxas de Euribor vão continuar a impactar os novos créditos habitação de taxa variável. Portanto, quem avançar com a compra de casa em julho e pedir financiamento bancário vai pagar mais de prestação da casa do que quem se antecipou e contratou o empréstimo no mês anterior. É isso que mostram as simulações preparadas pelos especialistas do idealista/créditohabitação, tendo por base um novo empréstimo habitação de 150.000 euros, com spread de 1% e prazo de 30 anos.
Comparando as prestações da casa dos contratos assinados em julho de 2023 (que usam a média de Euribor de junho), com as prestações dos créditos assinados no mês anterior, verifica-se que:
- Crédito habitação com Euribor a 12 meses: quem comprar casa em julho vai pagar 805 euros no primeiro ano, mais 13 euros do que quem assinou o contrato no mês anterior;
- Crédito habitação com Euribor a 6 meses: quem avançar com um empréstimo habitação em julho (que usa a média da Euribor de junho) pagará 789 euros/mês nos primeiros seis meses, mais 13 euros do que quem avançou com o crédito um mês antes;
- Crédito habitação com Euribor a 3 meses: neste caso a prestação da casa em julho situa-se nos 763 euros, um valor que será pago nos três meses seguintes, até ser novamente atualizado. Esta prestação é 15 euros superior à dos créditos habitação contratados em junho.
Apesar das taxas Euribor estarem a aumentar ao ritmo mais rápido de sempre, as famílias continuam a contratar créditos habitação de taxa variável em Portugal ao invés de taxas fixas – tanto que representam cerca de 90% do total de empréstimos. Isto porque também as taxas fixas também estão elevadas (praticamente no mesmo patamar) e, como o nome indica, assim que contratadas não mudam ao longo do contrato. Já as taxas variáveis podem sempre subir ou descer.
A mudança que se tem verificado no último ano é a maior contratação das taxas Euribor a 6 e a 3 meses ao invés da taxa com o prazo mais longo nos novos contratos para comprar casa. Ainda assim, a taxa Euribor a 12 meses continua a ser o indexante mais utilizado em Portugal nos créditos habitação com taxa variável representando 41% do stock em março de 2023, segundo os dados do BdP. A Euribor a 6 e a 3 meses representavam 33,7% e 22,9%, respetivamente.
Euribor sobe mais de 4% em 16 meses – e prestações quase duplicam
Se recuarmos ao início da subida das taxas Euribor e ao começo das simulações realizadas pelo idealista/créditohabitação, salta à vista que os indexantes aumentaram mais de 4,3 p.p. em apenas 16 meses e as prestações da casa quase duplicaram. Vamos aos dados:
- Crédito habitação com Euribor a 12 meses: este indexante estava em -0,335% em fevereiro de 2022, tendo dado um salto de 4,342 p.p. em menos de um ano e meio, já que se fixou em 4,007% em junho de 2023. Em resultado, as prestações da casa subiram 75% de 460 euros para os créditos habitação contratos em março de 2022 para 805 euros para os novos empréstimos de julho de 2023 (+345 euros).
- Crédito habitação com Euribor a 6 meses: também este prazo deu um salto de 4,301 p.p., já que estava em -0,479% em fevereiro de 2022 e passou para 3,825% em junho de 2023. Assim, quem decidiu avançar com um empréstimo da casa em março de 2022 pagou nos primeiros seis meses 450 euros/mês. Já quem assinar um crédito habitação em julho de 2023 vai pagar mais 339 euros de prestação (+75%), ou seja, 789 euros mensais nos 6 meses seguintes.
Esta é uma realidade que é logo espelhada nos novos créditos habitação, já que é refletida a taxa média da Euribor contratada do mês anterior. Mas, note-se, que também quem avançou com o empréstimo da casa de taxa variável há mais tempo também vai sentir os efeitos da subida das taxas Euribor nas suas prestações da casa assim que forem atualizadas a 3, 6 ou 12 meses. Aqui a dimensão a subida vai depender de vários fatores, como o capital em dívida e do ano do contrato.
A verdade é que o panorama macroeconómico marcado pela alta subida de juros, inflação persistente e instabilidade está a deixar as famílias que compraram casa com recurso ao crédito habitação em sérias dificuldades. Foi por isso mesmo que o Governo lançou várias medidas de apoio que visam apoiar estas famílias, como é o caso das novas regras para renegociar o crédito habitação, a amortização do crédito sem custos (que cria condições favoráveis à transferência de créditos para outros bancos), possibilidade de resgatar o Plano de Poupança Reforma (PRR) para amortizar o crédito habitação e ainda a bonificação dos juros prevista no Mais Habitação.